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Turma da Mônica: Laços | Nostálgico, equilibrado e divertido

Turma da Mônica: Laços adapta a história da Graphic Novel homônima escrita pelos irmãos Lu e Vitor Cafaggi, contando mais uma das aventuras de Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha desta vez em busca do cachorro do Floquinho, o cachorro desaparecido do Cebolinha.

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E lá se vão gerações e mais gerações de pessoas que cresceram lendo as aventuras da Turma da Mônica. A importância da Turminha criada por Maurício de Sousa dispensa comentários, de modo que a notícia de uma possível adaptação dos personagens para o cinema foi recebida inicialmente com euforia e incerteza em medidas iguais.

Turma da Mônica: Laços adapta a história da Graphic Novel homônima escrita pelos irmãos Lu e Vitor Cafaggi, contando mais uma das aventuras de Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha desta vez em busca do cachorro do Floquinho, o cachorro desaparecido do Cebolinha.

E de fato trata-se de uma boa adaptação, curiosamente. Apesar de sua estrutura seguir quase que fielmente os eventos da HQ, o filme como um todo se aproxima muito mais das histórias clássicas dos Gibis. O roteiro leve foi produzido de forma equilibrada de modo a respeitar a nostalgia dos fãs mais antigos ao mesmo tempo em que entrega uma história atrativa as novas gerações. A trama principal é centrada na jornada dos quatro protagonistas e de como tal jornada servirá para amadurecer e fortalecer a relação entre os personagens.

Mônica e seu inseparável coelho Sansão.

Ao mesmo tempo como pano de fundo o filme desenvolve situações que remetem a discussões sobre bullying e outros temas delicados. Contudo esta representação não é incisiva, na verdade acompanha o tom praticado ao longo de todo o filme, que é leve e divertido, ao mesmo tempo em que conduz uma trama de transição, de amadurecimento, reforçados na maneira como os arcos individuais dos protagonistas se desenvolve.

A narrativa flui bem num ritmo uniforme e constante. A história é bem amarrada, sobretudo coerente e com uma escala limitada, o que não é um problema. Na verdade, o enredo contido e sem complexidades descabidas neste contexto, é um dos pontos mais acertados de Laços, já que permite que o roteiro trabalhe com um bom tempo de tela o relacionamento entre os protagonistas. De longe o ponto mais alto do longa.

Da esquerda para a direita:
Gabriel Moreira, Giulia Benite, Kevin Vechiatto e Laura Rauseo.

Mas, claro que é sobre o elenco principal que reside toda a expectativa do público e, de fato, os garotos não decepcionaram. Giulia Benite, Laura Rauseo, Gabriel Moreira e Kevin Vechiatto não decepcionam como Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha, pelo contrário, respondem muito, mas muito bem. Não à toa suas escolhas foram abençoadas pelo próprio Mauricio de Sousa e ninguém melhor que um pai para conhecer bem seus filhos.

Há um equilíbrio nos arcos individuais dos personagens e no seu desenvolvimento, e na maneira como interagem na trama. Mesmo que a infância inocente e quase utópica nos dias de hoje seja a base para o desenrolar da história, e no desenvolvimento e aprendizado de seus protagonistas que ela realmente ganha corpo.

Gabriel Moreira rouba a cena como o divertido Cascão, enquanto que Kevin Vechiatto é o mais exigido dos quatro, em seu aprendizado e na maneira como se vê obrigado a entender que eles funcionam melhor como equipe, cada um com seu papel e nem sempre o dele precisa ser por exemplo, a liderança;

Giulia Benite é um deleite aos nossos olhos como Mônica, é a personagem que conhecemos nos gibis mas com mais camadas, e com um viés de sensibilidade que não vemos nos quadrinhos mas que funcionou muito bem para a personagem no filme. Na mesma pegada segue a Magali de Laura Rauseo, que também precisa lidar assim como todos os seus amigos, com seus próprios dilemas.

Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, o Louco.

Completam o elenco Paulo Vilhena, Monica Iozzi e Rodrigo Santoro, que tem uma participação muito bacana como o Louco, num momento que não fica evidente (nem precisa na verdade) se é uma alucinação ou realidade. A performance de Santoro, é a cereja do bolo.

Muito da imersão do público no filme se deve a fotografia e a ambientação, a recriação do bairro do Limoeiro é incrível, agrega uma ar de paz e tranquilidade típico das cidades do Interior, os figurinos os cenários, os objetos em cena além de aumentarem o tom de inocência que permeia o Longa, garantem um certo ar atemporal ao filme.

Os figurinos também mantém uma certa fidelidade ao seu material original, enquanto que os pais dos protagonistas usam roupas que remetem a décadas e períodos diferentes, a turminha mantém o design e as cores tradicionais, com direito a uma referência envolvendo os calçados que vão levar ao delírio os fãs mais hardcore da Turminha.

O vilão do filme (o Homem do Saco, que não poderia ser mais icônico não é mesmo?) como era de se esperar é extremamente caricato, e deveras incompetente, no estilo “vilão do Scooby Doo”. Vivido por Ravel Cabral está ali apenas para movimentar a trama.

O diretor Daniel Rezende ao lado do mestre Maurício de Souza.

Se a escolha do elenco principal foi um grande acerto, o mesmo pode-se dizer do diretor Daniel Rezende. Daniel recentemente entregou um dos melhores filmes que já passaram pelo cinema nacional (estamos falando de Bingo, o Rei das Manhãs, de 2017) e sua assinatura muito particular também pode ser vista em Laços, não só na habilidade de extrair o melhor do seu elenco, mas também na montagem e edição de Laços, que corroboram o dinâmica proposta no roteiro, aliados ao trabalho de câmera e seus enquadramentos que ressaltam que nunca foi intenção da direção colocar o quadrinho na tela, mas sim adaptar com qualidade e fidelidade de modo que o público visse um filme e sempre associado ao seu material origem.

Daniel Rezende é um dos grandes nomes da direção do cinema nacional, faz parte de uma geração jovem e muito promissora e a julgar pela maneira como Laços termina, veria tranquilamente um segundo filme desta vez com a Turminha na adolescência sob sua direção.

Não posso encerrar este texto sem falar dos easter eggs. As referências estão por toda a parte, algumas escancaradas outras muito sutis, e a maior delas é a aparição do próprio Maurício de Sousa ao melhor estilo Stan Lee. Vale a pena um replay do filme só para caçar estas referências.

O Floquinho é verde! Quer referencia melhor que essa?

Turma da Mônica Laços, acerta pela simplicidade e comprometimento em entregar para os fãs um bom filme que zela e respeita seu material original. Não há grandiosidade, mas faz valer a máxima do “menos é mais” sendo muito feliz ao escolher e explorar os elementos ideais para entregar uma trama carregada de emoção, nostalgia e diversão.

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