Lino, de Rafael Ribas, tem o grande mérito de ser uma animação produzida 100% em território brasileiro e, ao mesmo tempo, isso traz um desafio para ela, de se provar a altura de seus concorrentes no voraz mercado das animações para cinema.
Lino (Selton Melo) é um perdedor. Nada na sua vida evolui e tem uma tendência de manter-se estagnada ou dar dois passos para trás. Ele trabalha como animador de festas usando uma velha fantasia de gato e geralmente é sacaneado e detonado pelas crianças. Cansado dessa vida de derrotas, Lino busca o mago e vidente Don Leon (Luiz Carlos de Moraes) que acidentalmente o transforma num gato gigante. No meio da busca para reverter o feitiço, Lino se envolve com a policial Janine (Dira Paes), com o mundo da magia e com a pequena pestinha, uma menina órfã que, literalmente, cai no colo de Lino nessa aventura maluca.
O Character Design da obra é bastante competente. Ivan Oviedo deu aos personagens silhuetas alongadas, reforçando o caráter estilizado e deixando os personagens facilmente reconhecíveis e personalizados. Lino tem cores quentes, o que chama logo atenção para o personagem, e ele também é o único a seguir esse tipo de paleta de cores. A equipe do Animastart se esmerou bastante e conseguiu um excelente trabalho nos cenários, que mesmo estilizados possuem excelentes texturas, em especial elementos metálicos e ao mesmo tempo foram espertos em evitar o inimigo mortal dos animadores digitais: animar água. A fotografia é bem simples e acertada, cumprindo a sua função de forma competente e o mesmo pode ser dito da trilha sonora e dos efeitos sonoros. A paleta de cores do longa é sempre viva nos personagens e levemente lavada nos cenários e ajuda a reforçar a busca do longa em atingir o público infantil.
Pegando uma característica Kafkaniana, o roteiro busca, a partir da transformação do Lino em um gato gigante, levar o protagonista numa aventura maluca de auto-descoberta. A narrativa é linear e com um desfecho esperado e com direito a lição do dia num estilo bem He-Man de ser, algo condizente com o público-alvo da obra, fazendo com que a estrada passada seja mais interessante do que o ponto de chegada. O roteiro de Rafael Ribas (?) aposta bem em piadas e tiradas nossas, como “bolacha x biscoito” e piadas do tipo. Isso também acaba sendo um ponto falho da obra, porque algumas piadas são muito sem graça. O filme sutilmente também se utiliza do politicamente correto, errando com a retirada de armas de fogo e mantendo os textos dos cenários em inglês genérico, e acertando com a utilização carismática da personagem Pestinha e de Janine. Alguns clichês incomodam, como o amigo sacana da infância e a patricinha burrinha, mas que não comprometem o todo.
Selton Melo mostra mais uma vez a sua versatilidade, capitaneando o projeto e carregando a obra nas costas. Dira Paes faz a policial Janine de forma simples, Paola Oliveira está apenas ‘ok’ e os dubladores profissionais como Guilherme Lopes (Victor) e Hélio Ribeiro (Henry Topper) fazem bem o seu trabalho.
Lino é um produto feito certinho dentro das engrenagens do mercado. Mira certeiramente no público infantil e no espectador médio das salas de cinema, trazendo uma história simples e com a cara do brasileiro embalado numa animação de técnica muito competente e que merece ser descoberta. Uma obra competente e que diverte bem .
Lino tem data de estreou no dia 07 de setembro e agradecemos as amigas e parceiras da Espaço Z pelo convite pra conferirmos esse lançamento.