Filmes
Jurassic World: Reino Ameaçado | Crítica (Sem Spoilers)

Publicado há
7 anos atrásem
Novo filme traz de volta o horror do clássico Jurassic Park.
O ano era 1993 e Jurassic Park chegou para mudar os rumos da historia do cinema. Não houve quem não se maravilhasse com a obra de Spielberg, que além de contar uma historia com um ritmo intenso e muito bem amarrado, encantou a todos com seus efeitos especiais pioneiros e inovadores, dando um contexto tremendamente real aos dinossauros vistos em cena.
Ainda que os demais filmes da franquia ficassem abaixo de seu precursor, a franquia foi trazida de volta com Jurassic World em 2015, num filme que trouxe de volta a nostalgia do clássico de 1993, mas com uma linguagem propriamente construída para dialogar com as novas gerações. O filme foi um sucesso de crítica e público, preparando o terreno para uma possível continuação.
E isso nos traz a Jurassic World: O Reino Ameaçado, filme de Juan Antônio Bayona, que acompanha o retorno dos personagens Owen e Claire à Ilha Nublar, para que o parecia ser uma operação de resgate, mas que aos poucos se revela um risco a todo o planeta Terra.
O segundo filme da nova safra de filmes da franquia Jurassic World, segue apostando, como seu antecessor, na nostalgia da franquia com elementos, easter eggs e referências ao clássico Jurassic Park de 1993. Enquanto que a premissa do primeiro filme se aproximava muito de Jurassic Park, este segundo filme mostra claramente o desejo de levar a franquia para outros patamares, o enredo tenta apresentar uma historia mais elaborada que engloba elementos vistos nos filmes anteriores, cuja premissa se aproxima muito de Jurassic Park: O Mundo Perdido (1997).
Jurassic Park: O Mundo Perdido (1997)
Três anos se passaram desde os eventos de Jurassic World e, desde então, o parque da Ilha Nublar foi deixado em ruínas, com os dinossauros vagando livremente por toda a ilha. Mas um vulcão adormecido volta à atividade e está prestes a destruir toda a ilha e e os animais que existem nela.
O governo americano, pressionado pelos incidentes anteriores envolvendo as criaturas, passa a tratar a destruição da ilha como uma “providencia divina”. Enquanto isso, na outra ponta da corda, ONGs e grupos ativistas lutam contra o que pode vir a ser uma nova extinção dos dinossauros. Uma expedição então é organizada com o objetivo de resgatar algumas espécies e levá-los para um local seguro.
O roteiro percorre sua trajetória, esboçando discussões sobre ética, bom senso e principalmente a natureza humana, mas sem se aprofundar em nenhuma delas, o que alias não é o foco. Sem grandes personagens a serem desenvolvidos, a trama caminha para apresentar a ameaça, o vilão, e os elementos que conduzem o enredo para um ponto de virada previsível, mas com um clímax final bom que reverencia os finais dos filmes anteriores, mas que tem um desfecho diferenciado, se afastando da mesmice. Ainda que não seja nenhum primor, o roteiro bem amarrado se alicerça no senso de aventura dos personagens escapando das situações mais absurdas, com o diferencial da ambientação. O filme nitidamente se esforça para trazer de volta a sensação de horror e desespero em busca da sobrevivência tão presente em Jurassic Park. Não se trata de um filme de terror com dinossauros, se trata de um filme de ação e aventura com toques de horror.
As cenas de ação continuam sendo um dos destaques do longa, com suas sequências de fuga e perseguição, expondo os personagens a situações desesperadoras, com soluções ainda mais inimagináveis. E por falar nos personagens, Chris Pratt e Bryce Dallas Howard retornam como os protagonistas Owen e Claire, respectivamente.
A química e o entrosamento entre eles é visível, mas a repetição do impasse amoroso do casal, assim como foi no primeiro filme, pode incomodar um pouco. Claire se tornou uma ativista dedicada a tentar salvar os dinossauros de um fim certo, a personagem representa, de certa forma, a inocência de uma causa nobre em meio à ganancia humana. Ainda assim Claire é uma personagem determinada, que defende seus ideais com a energia de quem realmente parece ter entendido que agora está fazendo a coisa certa. E depois de certa polêmica no filme anterior, quando todo mundo criticou as cenas em que Claire fugia correndo de salto alto, desta vez o filme respondeu dando um não-tão-discreto, close nos pés da bela ruiva, mostrando que, desta vez, a garota está devidamente equipada calçando um par de botas.
Já Owen continua fazendo o tipo aventureiro/galã/gente-boa que, ao melhor estilo “Indiana Jones”, parece ter sempre as melhores soluções, mesmo nos momentos mais críticos. E tudo, claro, sem perder o bom humor. A relação de Owen e Blue, sua “dinossaura preferida”, é explorada de maneira mais profunda, mostrando o quanto são importantes um para o outro. Pratt é um ator de carismático, fica impossível não simpatizar com seus personagens, e este não é uma exceção.
Daniella Pineda e Justice Smith fazem sua estreia na franquia como Zia Rodriguez, uma veterinária especialista em dinossauros (mesmo sem nunca ter visto nenhum de perto!) e Frankilin Webb, especialista em análise de sistema (o nerd da cadeira da vez). Ambos acrescentam pouco a história servindo, basicamente, como alivio cômico. Isabella Sermon completa o time de protagonista, crianças sempre estiveram nas historias da franquia, mas no caso da personagem de Isabella, Maisie, o olhar infantil ganha ainda mais força graças à atuação da jovem atriz, principalmente nas cenas de medo e tensão.
Se a trilha sonora não compromete, respeitando o material do filme clássico. A fotografia agrada e o filme adota um ritmo bacana para desenvolver sua historia. No tocante aos efeitos especiais, Jurassic World se rendeu às críticas feitas ao filme anterior pelo excesso de computação gráfica, desta vez o filme se notabiliza pelo recorrente uso de efeitos práticos como os robôs dinossauros.
Já o vilão do filme realmente não empolga, mesmo que o histórico anterior da franquia nos afaste desta ideia, a julgar pelo que o filme se propõe a passar, a expectativa de um vilão com motivações bem desenvolvidas era inevitável. Contudo o personagem Millis (Rafe Spall) acaba por não ir além da personificação da ambição, ganância e falta de escrúpulos. Já o dinossauro ameaçador da vez talvez não tenha a mesma imponência da Indominus Rex do filme anterior, porém possui uma abordagem muito mais aterrorizante. De fato tratamos de uma franquia que tem interessantes personagens humanos, mas que acima de tudo valoriza aqueles que devem ser realmente o centro das atenções: os dinossauros.
Por fim as referências estão espalhadas ao longo de todo o filme, elementos de Jurassic Park são inseridos no desenvolvimento desta historia, e até personagens clássicos como o cientista Ian Malcow (Jeff Goldblum) e o geneticista Henry Wu (B.D. Wong). O respeito pelo cânone da saga é notável o que não impede que o filme busque seu próprio caminho.
O longa é uma continuação valida que fica longe de ser um caça níquel. Com um bom trabalho do diretor Juan Antonio Bayona visa conduzir não só o filme, mas a franquia para outros rumos e, de forma corajosa, mostra que a renovação e a mudança de abordagem são sempre necessárias para a manutenção da longevidade. Afinal, como não considerar o peso a importância da evolução? Charles Darwin que o diga!
Jurassic World: Reino Ameaçado
Resumo
Longe de ser perfeito, Jurassic World: Reino Ameaçado visita a nostalgia, ao mesmo tempo em que direciona a historia para novos rumos, mas sem descontruir o cânone. Assusta, diverte e agrada. Discute a ética da evolução, da ciência e da tecnologia, e o detrimento da natureza pela ganância humana.
Conheceu os quadrinhos (que carinhosamente chama de Gibi) no fim dos anos 80 e deles nunca mais se separou. Gamer old school, ávido devorador de bons livros, amante da sétima arte, comentarista de rádio. Escreve para uma comunidade de cultura pop, e é o mais recente membro honorário do Conselho de Elrond.