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Voltar a acreditar no bem: o novo Superman e a necessidade de esperança no cinema

Uma reflexão sobre como o Superman de James Gunn se faz necessário.

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Nos últimos anos, o cinema — especialmente o de super-heróis — parece ter se afogado em sombras. Heróis traumatizados, ambíguos, quase anti-heróis. Tramas cheias de tragédia e redenções amargas. E embora essa estética sombria tenha refletido com precisão os dilemas do nosso tempo, ela também trouxe uma exaustão emocional. Afinal, vivemos em um mundo que já se apresenta sombrio demais. É por isso que o novo Superman de James Gunn surge como um respiro necessário: uma lembrança de que a bondade ainda é possível — e que ela pode, sim, ser heróica.

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O Superman de David Corenswet, ao contrário da versão anterior interpretada por Henry Cavill, não é um semideus inatingível. Ele é gentil. Ele sorri. Ele salva um cachorro preso e um esquilo indefeso mesmo quando poderia estar enfrentando uma ameaça maior. E por isso… ele apanha. Literalmente. E, para muitos espectadores, isso foi motivo de chacota.

Assisti recentemente a um vídeo onde um garoto dizia preferir o Superman “badass” de Zack Snyder porque ele não apanhava — ele destruía cidades. “Esse novo aí salva esquilo e leva porrada”, ele dizia, rindo. Mas é justamente aí que mora a diferença gritante entre essas versões do personagem: a força verdadeira não está em quem pode esmagar tudo ao seu redor, mas em quem escolhe poupar. Em quem se importa com os pequenos gestos. Em quem sofre as consequências por fazer o bem e, ainda assim, continua fazendo.

Essa luz, essa bondade quase ingênua, é frequentemente tratada como fraqueza nas narrativas contemporâneas. Mas isso revela muito mais sobre o cinismo da nossa sociedade do que sobre os personagens em si.

E não é só Superman que nos ensina isso.

Basta olhar para Aragorn, de O Senhor dos Anéis. Um personagem que, à primeira vista, poderia ser moldado nos estereótipos do herói durão: espadachim hábil, guerreiro nato, líder de homens. Mas Aragorn não lidera por brutalidade. Ele lidera por compaixão. Ele hesita em tomar o trono porque entende o peso da responsabilidade. Ele luta por um mundo onde os povos da Terra Média possam viver em paz — mesmo que isso signifique carregar fardos que outros jamais suportariam. Aragorn é um herói que ama. Que sofre. Que acredita. E é justamente por isso que é tão poderoso.

Assim como ele, Superman também carrega o mundo nas costas. Mas não o mundo das batalhas — o mundo da esperança. E precisamos urgentemente lembrar o valor disso.

Num planeta onde o ódio é trending topic, onde a empatia parece artigo de luxo e onde o medo de “parecer fraco” contamina até os nossos ideais, personagens como Aragorn e esse novo Superman funcionam como espelhos invertidos. Eles nos mostram não o que somos, mas o que poderíamos ser.

É curioso pensar que, hoje, ser gentil exige mais coragem do que ser cruel. Ser bondoso virou sinônimo de ser ingênuo. Defender o bem virou um gesto quase revolucionário. E é por isso que a escolha estética e narrativa de James Gunn importa tanto. Porque ela recusa o niilismo. Porque ela desafia a lógica do “herói forte é o que grita mais alto ou explode mais coisas”. Porque ela ousa nos fazer acreditar de novo.

O cinema, é claro, pode e deve refletir a complexidade do mundo. Mas também pode — e deve — oferecer alternativas. Luzes no fim do túnel. Faróis para os dias em que tudo parece ruir.

E quando vemos alguém salvar um esquilo, mesmo sabendo que isso pode custar caro… talvez o que estejamos vendo, no fim das contas, não seja só um gesto de bondade. É resistência. É humanidade. É uma promessa: ainda dá pra ser bom.

E se o mundo real beira o apocalipse todos os dias, nada mais justo do que o cinema nos lembrar que o bem, o amor, a compaixão e a esperança não são apenas possíveis — são necessários.


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