E por que não falar de quadrinhos em sala de aula como extensão da metodologia de ensino para a compreensão dos tempos históricos. Desde quando iniciei meus estudos como aluno da História, tenho encontrado inúmeros rastros dessa linguagem imagética no desenvolvimento de histórias contadas por seus autores. O emblemático Capitão América, criado por Jack Kirby e Joe Simon, em meados de 1941, trouxe em sua primeira edição a luta do herói americano contra o regime totalitarista na Alemanha nazista, personificado por Adolf Hitler. Mas o curioso desse herói não é apenas o fato da representação das cores da bandeira dos Estados Unidos e da ideia de patriotismo, característica do personagem, mas o fato de que os criadores do personagem tinham suas próprias motivações ideológicas.
Afinal de contas, Jack Kirby e Joe Simon eram descendentes de judeus, suas famílias tinham fugido das inúmeras perseguições contra os judeus na Europa. Em sua primeira edição fica claro a posição desses autores diante do nazi-fascismo que se intensificava, sobretudo na Itália de Mussolini e na Alemanha com Adolf Hitler.
Esse engajamento como já disse não era algo inocente, entretanto, um retrato dos interesses defendidos por seus criadores. Lembrando aqui Michel Foucault em que todo o discurso é feito e pensado a partir da visão dos seus autores. No caso dos criadores do Capitão América, além do desejo de reafirmar o patriotismo e a defesa da “senhora Liberdade”, o personagem é fruto do desejo de Jack Kirby e Joe Simon de eliminar ódio e o antissemitismo que se instaurou no cenário da Segunda Guerra Mundial.
Não há como negar que a produção humana é carregada de seus interesses e mesmo algo tão simples como uma revistinha em quadrinhos tem em suas páginas elementos sociais e políticos; são feitas com base nas experiências de seus idealizadores, e são filhos do seu tempo. A visualizar o Capitão América esmurrando o Hitler, percebe-se não apenas um herói que combate o nazismo e seu símbolo. Esmurrar Hitler é simbólico e representa o desejo criadores de combater o antissemitismo que marcou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), evidenciando é claro o patriotismo de um personagem que representa a força de um país que passou a impor seus ideais no mundo no pós-guerra.
Fontes:
RODRIGUES, Marcio dos Santos. GERMANO, Lígia Beatriz de Paula. Capitão América e a História dos Estados Unidos no século XX. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=35711. Acessado: 03 Junho 2015.
SALEM, Rodrigo. Resgate – A evolução dos quadrinhos sob a análise do historiador. Diário de Pernambuco. Recife, Maio de 1995, Caderno Viver p-6
VILELA, Túlio. Quadrinhos e 2º Guerra Mundial: Capitão América e os roteiristas judeus. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/quadrinhos-e-2-guerra-mundial-capitao-america-e-os-roteiristas-judeus.htm. Acessado: 03 Junho 2015.