Policia Federal: A lei é para todos, o mais novo filme de Marcelo Antunez chegou aos cinemas no último dia 07 de setembro sob a luz da polêmica.
A partir dos trailers apresentados muitos estão falando que o filme tem a sua narrativa mais direcionada para o espectro politico de direita brasileira, e vou direito falar sobre o “elefante branco na sala”: Sim! O filme tem esse viés mais voltado para direita politica brasileira. Há diversos elementos no filme que deixam isso bem claro e que falarei mais a frente no texto.
Isso é um fator crucial para qualidade do filme? Não.
O roteiro de Thomas Stavros e Gustavo Lipsztein abrange do inicio da Operação Lava-Jato até meados de 2016, mostrando tudo através das ações da equipe da Polícia Federal responsável pela operação. Porém o formato didático que eles usam em prol de uma facilitação para o grande público deixou a narrativa enfraquecida. A narração em off, que funciona em obras como Narcos (vemos uma das muitas similaridades com o material do José Padilha que o longa tenta emular) aqui fica excessivamente presente. Mesmo o longa ousando em mostrar acontecimentos à frente da narrativa para assim começar uma narrativa que vai e volta na sua linha do tempo, ele logo abandona essa ideia e decide manter apenas um foco linear e, mesmo assim, o ritmo mais lento e com muito texto deixa o filme arrastado. Os escritores não mudaram os nomes de partidos e de pessoas envolvidas nos fatos acontecidos durante a investigação e, assim, figuras carimbadas na mídia dos últimos anos surgem na tela, como Alberto Youseff (Roberto Berindelli), Paulo Roberto Costa (Roney Facchinni), Marcelo Odebrecht (Leonardo Medeiros) e até um certo ex-presidente (Ary Fontoura) assim como o nome dos partidos como PSDB, PMDB e o mais citado, o PT.
Os personagens são extremantes simplistas, numa visão preta e branca de bem e mal. A Policia Federal no claro papel dos mocinhos, os heróis necessários e cheios de ideais de justiça, mesmo com alguns trazendo dúvidas e outros se sentindo traídos ou deslocados, esses pontos de contraste nos personagens da Polícia são mínimos e esses personagens tem pouquíssimo desenvolvimento, com exceção do Delegado Julio Cesar (Bruce Gomlevsky), que tem sua família apresentada, mas reduzida a uma função apenas. Do outro lado, os políticos e seus associados são mostrados em retratos caricaturescos de vilania. Youseff é o vilão canastrão e cheio de piadas. Doleiras bebem champagne se esbaldando em banheiras. Empresários fazem cara de chefão da máfia. O retrato mostrado desses personagens é de um vilão quase fugido do seriado do Batman dos anos 1960.
Com tudo isso pouco resta ao elenco, que também padece. Antonio Calloni faz de Ivan um personagem de liderança integra e simplista, mesmo as vezes se questionando e é a melhor coisa do filme. Flávia Alessandra em nada lembra uma delegada veterana e sua atuação não ajuda. O Julio do Bruce Gomlevsky é o delegado esperto e estourado do grupo, que tem a sua família mostrada apenas em função de se mostrarem traídos em suas ideologias. Ary Fontura reduz o seu retrato do ex-presidente a um monte de gags malignas que fariam a Bruxa Má da Branca de Neve corar de vergonha e “O Juiz” do Marcelo Serrado é um Batman de paletó com cara sisuda o tempo inteiro. O restante do elenco cumpre a tabela e garantiu o contra-cheque.
A Fotografia do Marcelo Brasil tenta beber na fonte do Narcos e falha na maioria das vezes, muito mais lembrando uma novela global do que um filme e a trilha sonora é praticamente inexistente de tão sub-utilizada que é.
Somado a forma maniqueísta de bem contra o mal que a história foi contada, o filme é inteiramente permeado pela cor azul, sejam nas roupas da Policia Federal, nas telas dos monitores e até mesmo em cenários inteiros, o azul é constante e essa cor é predominante da direita, contrastando com os elementos vermelhos pontualmente representando o inimigo, e também é visível ver como empresários moram em mansões douradas. Para fechar os signos claros da orientação politica do filme, botar um personagem pra cantar Ultraje a Rigor ilustra de forma plena isso.
Simplório, maniqueísta e tecnicamente fraco, Polícia Federal: A lei é para todos falha principalmente como filme e não importa se a visão do espectador vai para direita ou para esquerda, isso não fara o filme melhorar em aspecto nenhum.