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O Filme da Minha Vida | Crítica [Sem Spoilers]

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Selton Mello é um dos artistas mais versáteis hoje. Ator que já fez de dublagem, como nos seus dias de Charlie Brown, o homem simples nordestino em O Auto da Compadecida, o escroto misantropo de O Cheiro do Ralo e muitos outros trabalhos magníficos. Até que, em 2008, surge o Selton diretor, com o discreto e poderoso Feliz Natal e seguiu com o singelo O Palhaço em 2011. Agora temos o seu novo longa, O Filme da Minha Vida.

Baseado no livro “ Um pai de cinema” de Antonio Skármeta, o longa nos apresenta a Tony Terranova (Johnny Massaro), um jovem professor de Francês que, ao retornar para sua cidade, Remanso, no interior da Serra Gaúcha, tem que lidar com a partida repentina do seu pai, o francês Nicolas Terranova (Vincent Cassel), que deixa a sua mãe Sofia (Ondina Clais) em frangalhos e sendo ambos amparados por Paco (Selton Mello) um velho amigo da família. No meio da dúvida, nostalgia e saudade gerados pela partida, Tony também precisa se encontrar como pessoa, no inicio da vida adulta, com todos os desafios da profissão, dos relacionamentos, com seus alunos e com Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Bia Arantes), as irmãs Bandeira, e  com as descobertas que a vida traz.

O longa traz uma narrativa bem conduzida, com diversas vezes tendo Tony como narrador em off, o que reforça o sentimento de saudade, como nos momentos em que Tony lembra do pai, uma figura forte e carinhosa na vida da família. As interações escolares de Tony com seus alunos, em especial com o jovem Augusto Bandeira (João Prates), irmão mais novo de Luna e Petra e que está com os hormônios em chamas, acabam gerando boas piadas. Há também a amizade carinhosa e parceira de Tony com Luna e a visão da mulher fatal que Petra transborda. Paco traz o alento e a busca de Tony tanto por respostas sobre o pai como também um segundo exemplo paternal para Tony. Todos esses personagens são ricos, tem vida própria e tem o seu tempo de tela trazidos na medida certa e é muito bom você se importar com eles.

Todo esse cenário fica mais rico graças ao espetacular trabalho de fotografia de Walter Carvalho, do também belo Lavoura Arcaica que, usando uma paleta de tons amarelos e sépia, traz uma serenidade e melancolia que enriquecem cada plano utilizado, e como é bonito ver as panorâmicas da Serra serem magistralmente contrastadas com primeiríssimos planos, em super-closes dos personagens e, ambos os casos, a expressividade a favor da narrativa é virtuosa e precisa. Essa fotografia também é carregada de simbologia. Da bicicleta infantil ao bordel escarlate. Cada item que é mostrado vem carregado de um significado.

O trabalho de direção de arte também é primoroso. Claúdio Amaral Peixoto acertou em buscar detalhes minuciosos da década de 1960, como um luta de Eder Jofre, as canecas de metal, os carros e veículos do período e até mesmo o timming lento das jaquetas e vestidos 50’s dos jovens. Até mesmo Paco e Tony cantando juntos um jingle do rádio mostra todo o apuro e recriação precisa da equipe. Até mesmo os hábitos de antes, hoje reprováveis, como a glamourização do fumo não foi contido, mas mostrado como um item natural desse período.

Todo esse apuro também é sentido na trilha sonora, com diversos hits e músicas do período trazidas por Plínio Profeta, que também entende que as vezes deixar o ambiente ditar seus sons também.

O elenco do longa merece todos os méritos possíveis. Johnny Massaro e seu Tony são mostrados aos poucos, construído a cada momento como uma atuação primorosa. Vicent Cassel é ao mesmo tempo seguro e gentil nos momentos com o menino Tony e com Sofia, que nas talentosas mãos de Ondina Clais demonstra uma tristeza enclausurada mas que é transmitida pela melancolia do olhar. Bruna Linzmeyer é a personificação da juventude indecisa e ingênua, que fala mais por metáforas e imagens, enquanto Bia Arantes faz de Petra uma mulher que sabe da força de sua beleza e experiência.

O Filme da Minha Vida é uma experiência cinematográfica única. Como diz Giuseppe, o maquinista do trem que passa em Remanso, personagem de Rolando Boldrin: “– Eu amo o meu trabalho”. Somos premiados por Selton Mello também amar o dele e nos proporcionar uma obra tão bela como essa.

QUEREMOS AGRADECER O CONVITE DA ESPAÇO Z À NÓS DO MULTIVERSOS PARA PARTICIPARMOS DA CABINE DESTE BELO FILME E ASSIM TRAZEMOS ESSE TEXTO PARA VOCÊS.

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