À convite da Espaço/Z nós do Multiversos conferimos o aguardadíssimo, Mulher-Maravilha, e trazemos aqui pra vocês nossa crítica SEM spoilers!
Mulher-Maravilha, dirigido por Patty Jenkins, trazendo no papel principal Gal Gadot, vem para mostrar que, antes de se tornar Mulher-Maravilha, ela era Diana, princesa das Amazonas, treinada desde cedo para ser uma guerreira imbatível. Criada em uma paradisíaca ilha afastada de tudo, Diana descobre, por um piloto americano acidentado, que uma guerra sem precedentes está se espalhando pelo mundo e, certa de que pode parar o conflito, decide deixar seu lar pela primeira vez. Travando uma guerra para acabar com todas guerras, Diana toma ciência do alcance de seus poderes e de sua verdadeira missão.
A diretora Patty Jenkins
O filme é parte da nova empreitada da Warner/DC em seu universo compartilhado. Começado de forma mediana com O Homem de Aço (2013) e com os equívocos chamados de Batman V Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida (ambos de 2016), o UCDC segue com um longa que teve sua concepção iniciada de forma turbulenta. A saída da primeira diretora, Michelle McLaren (de Breaking Bad), com a sua substituição por Patty Jenkins (Monster) e o roteiro ter sido creditado ao trio Allan Heinberg [de The OC e dos quadrinhos Jovens Vingadores (Marvel) e Mulher-Maravilha (DC)], Jason Fuchs (Pan) e Zack Snyder (Sucker Punch), o filme estava envolto em desconfiança pela critica e pelo público, e tinha a difícil missão de agradar a ambos.
Com sua história situada durante a Primeira Guerra Mundial, o longa mostra como Diana chega ao mundo dos homens, sua formação em Themyscira, seu contato com esse momento da história e como ela ajudou durante esse período.
O maior triunfo que o longa possui se chama Gal Gadot. Saída incólume de BvS, o seu carisma como Diana se comprova aqui. A construção de sua Diana é muito bem conduzida. Mostrada como uma jovem ingênua mas determinada em seu senso de dever e de ajudar o próximo e, ao mesmo tempo, sua figura visual mostra confiança, força, beleza e amabilidade, características essências de Diana em seu início. Gadot personifica perfeitamente bem a sua personagem e se iguala à Christopher Reeve (Superman), Hugh Jackman (Wolverine) e Chris Evans (Capitão América) nesse quesito.
Ao seu lado, temos o Steve Trevor de Chris Pine (Star Trek). Esperto, inteligente, malando e, ainda assim, demonstrando respeito para com Diana e, assim, constroem seus laços. Ambos são excelente juntos, há uma parceria excelente entre uma Diana que aprende o que é o mundo fora de Themyscira e um Steve que acompanha o diamante bruto e puro, que a amazona é, ser lapidado e, aos poucos, também começa a aprender com ela.
O elenco secundário também brilha bastante. Conie Nielsen é uma Hipólita, firme e amável com sua cria. Robin Wright faz de Antíope, a mestra certa e tia protetora. Lucy Davis é uma Etta Candy, adorável e companheira. O bando do Steve, composto por Saïd Taghmaoui (Sameer), Eugene Brave Rock (Chief) e Ewen Bremner (Charlie) são os bons companheiros de guerra e a pequena Emily Carey e sua pequena Diana roubam a cena. Danny Huston e Elena Anay defendem bem o General Erich Lundendorf e a Dra. Maru/Dra. Veneno.
Algo importante a ser falado é o quão belíssimos são os trabalhos de fotografia, design de produção e figurino do longa. Matthew Jensen soube muito bem como diferenciar os lugares, Themyscra, Inglaterra e Bélgica, tudo tem sua própria vida, todos são mostrados ricamente e são partes únicas formando o todo do filme, com belíssimos takes abertos e enquadramentos excelentes em momentos de ação e de calma. Aline Bonetto criou todos os detalhes dessas locações com fidelidade. Themyscira é solar, viva como suas amazonas, tudo ali é brilhante e radiante. A Inglaterra do inicio do século XX é fria e suja em seu azul e a Bélgica traz o ocre da guerra. Lindy Hemming recria muito bem esses períodos históricos com um apurado trabalho de vestuário e, ao mesmo tempo, cria os trajes das Amazonas de forma simples e apropriada. Desde as guerreiras até a Hipólita, é claro notar o quanto suas roupas são de guerreiras, diferindo bem do mundo dos homens. Tudo belamente mostrado em cores ricas e saturadas, que valorizam muito todo o visual do filme.
Musicalmente o filme é competente e quando solta o já famoso Ciell Rock, tema da personagem, as coisas ficam espetaculares.
Todo esse apuro técnico é acompanhado por uma história bem contada. Os 141 minutos de tela são bem conduzidos. Jenkins usou bem esse tempo e, sem pressa e com segurança, entrega muito bem a origem da personagem, suas descobertas e aprendizados durante a Primeira Guerra Mundial e fecha bem esse momento. Há um cuidado certíssimo em mostrar bem esse momento em suas qualidades e defeitos, e nisso o texto do Allan Heinberg é certeiro. O filme sabe se levar a sério nos momentos certos, sabe ser esperto e divertido pra aliviar com piadas bem sacadas e, quando precisa mostrar a ação, ele não poupa esforço e traz sequências memoráveis, mostrando bem a luta das Amazonas ou o horror da guerra.
Talvez o único ponto que me incomodou foram as adaptações e decisões utilizadas pelo roteiro em relação a alguns personagens. Não deixa o produto final ruim, porque essas decisões funcionam dentro do todo, mas meu lado fã de quadrinhos não gostou disso.
Com um roteiro excelente, narração competente, elenco afiado, seguindo e adaptando bem seu material fonte, sem fanservices, visualmente impecável, e acima de tudo, um grande filme e uma obra que exala cinema, Mulher-Maravilha de Patty Jenkins é o filme que precisávamos e merecíamos. Uma obra que mostra o quanto precisamos de heróis que façam a coisa certa quando o mundo precisa e façam isso com um sorriso no rosto e amor no coração.
Nascido em Fortaleza, trabalha profissionalmente com quadrinhos e ilustração desde 2005, quando começou a vender seus trabalhos pela Internet em sites de vendas como o E-Bay. Trabalhou para editoras norte-americanas, ministrou aulas de desenho e quadrinhos, e vem participando de diversos eventos nos Artists’ Alleys e em painéis sobre cultura pop, quadrinhos e artigos/notícias para o site do Dínamo Studios, do artista Daniel HDR.