Homem-Aranha: De Volta ao Lar marca a parceria entre dois dos maiores estúdios do mercado: a tradicional Sony e o jovem e poderoso Marvel Studios. Detentora dos direitos de uso do Aranha nos cinemas, a Sony veio trabalhando com filmes do aracnídeo desde 2002.
Após em meados dos anos 1990, quando adquiriu os direitos quase vitalícios de uso do personagem, a produtora fez cinco filmes do personagem. Sam Raimi fez a primeira trilogia, com acertos nos dois primeiros filmes (2002 e 2004) e uma catástrofe no terceiro filme, de 2007. Raimi sai da frente da produção e em 2012 e 2014, a Sony chamou Marc Webb, que fez duas bombas chamadas de Espetacular Homem-Aranha 1 e 2. Com a credibilidade abalada e com números aquém do esperado, a Sony busca o Marvel Studios e fecha a parceria que muitos fãs esperavam. Enquanto o Marvel Studios cuida da produção do filme, a Sony distribui o longa nos cinemas.
Estreando em Capitão América: Guerra Civil, Tom Holland assume a atual encarnação de Peter Parker. Aclamado e amado por sua atuação, Holland seguiu para o próximo passo: ter o seu próprio filme solo do Aranha, que colocá-lo-ia à prova de honrar o papel.
Agora, após os fatos ocorridos após o Tratado de Sokovia, Peter segue atuando no Queens, cuidado dos problemas da vizinhança, tendo que lidar com as adversidades no ensino médio e as ansiedades da adolescência. Para piorar, o Aranha descobre um esquema de vendas de armas e equipamentos especiais e roubos liderados por um bandido que ganha o apelido de O Abutre.
Peter é o grande personagem do filme. Inteligente, esperto, divertido, tímido no colégio e um piadista tagarela quando se veste de Aranha. Holland abraça o personagem e tudo que ele traz: desde a voz tagarela disparada ao trabalho físico-atlético e, com uma simpatia cativante, Tom Holland honra o papel com louvor. Outro acerto é que a origem não é contada, por motivos narrativos e para deixar a história mais ágil, até mesmo pelo fato de os produtores sacarem que a origem do Aranha já foi muito mostrada na telona e, assim, evitam a saturação desse momento.
O “De volta ao lar” do título acerta justamente com o fato de que agora tudo mudou na vida do Peter. Ele viu que o mundo é muito maior e quer entrar de cabeça nele. Como um adolescente, Peter quer se provar digno e valoroso da aceitação das figuras que ele põe em alta estima, e é aqui onde Tony Stark entra. Peter, como um jovem cientista e inventor, vê em Stark o ‘alvo’ onde chegar, o herói que ele quer ser. Tony tem participações pontuais e precisas no filme, e Robert Downey Jr. mostra-se muito bem nesses momentos. Se Holland não fosse tão bom, Downey Jr. roubaria a cena mais uma vez.
Adrian Toomes encarnado por Michael Keaton está muito bem. Discreto, seguro e inteligente, mostra que essa versão do Abutre está muito bem adaptada para a tela grande. Mesmo parecendo pesado e desengonçado, o Abutre do longa se mostra um vilão ameaçador e diferente dos megalomaníacos clichês, Toomes tem seus motivos para agir como o animal que ele se inspira.
O elenco coadjuvante completa os acertos do longa. Marisa Tomey e sua “jovem” Tia May está bem como a pessoa que cuidou do Peter e que ele ama. Ned é irmão nerd perdedor e amigo sempre. Liz Allen é o “crush” do filme, mas nem por isso reduzida, ao contrário, sua maior qualidade é a inteligência. Flash Thompson é tudo o que um babaca moderno pode ser. Michelle é aquela esquisitona cool da turma e “Happy” Hogan tá hilário e excelente fazendo a ponte entre Tony e Peter e sendo a “babá” do pirralho.
A trama do filme, escrita por seis escritores (Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna, Erik Sommers), o que geralmente é um mau sinal, não falha e entrega uma história redondinha. O clima adolescente, com festas, reuniões e momentos dessa fase da vida estão lá e, ao mesmo tempo, o lado de herói em formação do personagem não é esquecido. Como é bom ver uma história original, sem estar atrelada e nem preocupada em adaptar um gibi em específico e sim contar uma boa história!
O Aranha está muito bom! O que fica claro é que esse Aranha ainda é um menino, que tá pegando o jeito de ser um herói. Ele salta, bate, apanha, se arrebenta e mais importante, aprende. Ele não é um lutador como o Capitão ou um gênio como Homem-de-Ferro, mas ele tem a garra que vai levá-lo a ser maior e melhor como herói.
Tecnicamente, o filme tem excelentes designs, como o do Abutre, chegando bem perto de um update moderno para o personagem. O Aranha tem uma roupa magnifica e os olhos mexerem é um espetáculo. A Marvel aqui ganhou mais bonequinho do Homem-de-Ferro pra vender e até buchas como o Shocker, o Gatuno e o Pensador estão bem visualmente.
Michael Giacchino usou o seu já grandioso background em obras do tipo e entrega uma trilha excelente e que sabe se apropriar do repertório musical do Aranha que já existe como a música clássica da animação e ter a grande sacada de adicionar Ramones na trilha, trazendo também a pitada punk anárquica ideal e, não, não é a versão deles de “Spider-Man” mas também uma de suas mais conhecidas faixas: Blitzkrieg Pop.
A fotografia de Salvatore Totino é competente e sem maiores inspirações, cumprindo bem a sua função. Tudo bem regado à muitas cores, como um bom filme do Aranha deve ser.
De negativo, em alguns momentos os CG soam artificiais demais e alguns pontos cruciais do Aranha foram deixados de lado e não apresentados. Pontos esses essenciais mas que fazem o longa perder um pouco.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar de Jon Watts é um grande acerto: seguro e divertido, sem tropeços e bem conduzido. Traz o Aranha para dentro da intrincada cronologia do Universo Marvel dos cinemas e, mais importante, conta uma história do Homem-Aranha com ação, humor e mantém a essência do personagem intacta com emoção genuína.
PS.: Ah! Não levante da cadeira nos créditos finais… mas eu nem deveria falar sobre isso, se você já conhece os filmes do Marvel Studios. 😀
Nascido em Fortaleza, trabalha profissionalmente com quadrinhos e ilustração desde 2005, quando começou a vender seus trabalhos pela Internet em sites de vendas como o E-Bay. Trabalhou para editoras norte-americanas, ministrou aulas de desenho e quadrinhos, e vem participando de diversos eventos nos Artists’ Alleys e em painéis sobre cultura pop, quadrinhos e artigos/notícias para o site do Dínamo Studios, do artista Daniel HDR.