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Cantinho das HQs nº002 | O Pós-Apocalíptico 80’s Brasil

Publicado há
7 anos atrásem
Por:
Jean SinclairAlô, galera que acompanha o Multiversos.
No Cantinho das HQs de hoje só vai dar quadrinho nacional! Sejam apoiados por iniciativas coletivas, como o Catarse ou o Apoia-se, ou lançados por grandes editoras, como a Mythos, as HQs nacionais estão em grande momento e tem para todos os gostos e estilos.
Aqui vão as minhas mais recentes leituras nacionais:
Nina e Ariel nº 01
Novembro/2017
Revista Financiada pelo Catarse.
17 x 26 cm
43 páginas
Papel Couchê
Capa Couchê
Lombada Canoa (Grampeada)
R$ 20,00
Ed Benes, é um dos maiores e mais reconhecidos artistas brasileiros que trabalha para o mercado norte-americano à mais de vinte anos. Por volta de 2004, Benes apresentou uma ilustração de seu projeto autoral, Nina e Ariel.
O tempo passou, Benes sempre ocupado com a grande demanda de trabalho para as grandes editoras internacionais, nunca teve tempo de parar e seguir em frente com o projeto, mas sempre divulgando esporadicamente sketches das personagens e até que, em 2017, ele decidiu seguir em frente com as suas ideias. Utilizando a plataforma de financiamento coletivo, o Catarse, o projeto Nina & Ariel conseguiu bater a meta inicial de financiamento e diversas outras metas estendidas.
Nina & Ariel conta a história das duas protagonistas de mesmo nome, vivendo em um mundo pós-apocalíptico, tentando sobreviver aos perigos que agora emergem do que restou da humanidade.
Ambas as personagens são construídas usando arquétipos básicos. Nina é uma jovem loira que talvez não esteja pronta para o atual mundo selvagem e Ariel, a ruiva matadora que não leva desaforo pra casa. É legal ver que ambas possuem características bem diferentes, como fica bem claro nos seus diálogos e ações. Os outros personagens são o que esperamos desse tipo de cenário.
A trama dessa edição, que acertadamente fecha em si mesma e deixa bons ganchos, é bem simples e bem narrada, com um clímax legal que foge do esperado e com boas situações de diálogos e de ação. Benes teve cuidado de colocar algumas explicações para esse mundo e para os seus costumes mostrados na história.
Como um fã que segue o trabalho do Ed Benes desde os anos de 1990, posso dizer que esse é um dos melhores trabalhos produzidos por ele, mesmo sentindo que ele correu um pouco nas últimas páginas. Os cenários estão excelentes, com bons ângulos abertos e também sabendo utilizar bem os closes. As texturas estão excelentes e todo o trabalho de hachuras mostra os volumes corretos de todos os elementos desenhados na página. As cores do Dinei Ribeiro são bem utilizadas em uma paleta de cores quentes, com poucos tons azulados de contraste.
Como já esperava pelo “+18” estampado na capa, Benes fez um quadrinho adulto, tendo como inspiração os materiais que ele gosta, como HQs do Conan e da Sonja, histórias da revista Heavy Metal e filmes como Logan e séries como Game of Thrones, todas obras que utilizam de violência e sexo de fomas mais gráficas dentro da obra e, assim, Benes faz muito bem uma de suas melhores características como artista, que é desenhar belas mulheres. Nina e Ariel surgem belíssimas nas páginas da edição e, em diversos momentos, o desenhista sabe utilizar a sensualidade dos personagens. O fator fanservice permeia a revista, e isso é um ponto bastante positivo, porque o artista transmitiu bem e com clareza a sua história e mostra bem que o Benes se divertiu fazendo a este material.
De pontos a serem revisados, pude ver alguns problemas, como diversos problemas de falta de vírgulas, alguns de acentuação (crase) e até de grafia. Outro ponto a ser citado é o posicionamento dos balões, e até alguns textos que acabaram ficando colados aos balões, buscando uma maior expressividade do momento, mas que acabaram ficando estranhos e com uma visibilidade pouco clara na página.
Graficamente é muito bom ver um projeto como esse. A revista tem formato americano, capa tripla (graças as metas estendidas) e impressa completamente em papel couchê. A edição contém ainda uma entrevista com o Ed Benes e uma galeria com sketches e artes do projeto. Esse projeto já entra como um dos melhores modelos de projeto de HQs, com um bom preço, formato ideal e entregue ANTES DA CCXP, o que, pra mim, foi algo positivíssimo.
Compre a edição pela Fanpage do Facebook do projeto:
http://www.facebook.com/ninaeariel/
Ramthar
Novembro/2017
Revista Financiada pelo Catarse.
20,5 x 27,6 cm
84 páginas
Papel Couchê
Capa dura em Couchê fosco
Lombada quadrada
R$ 34,90
Criado em 1986, Ramthar ganhou vida num anúncio em formato de história curta. Deodato Borges Filho ou, como seria futuramente conhecido, Mike Deodato Jr., criou esse ser bruto e melancólico que vive numa realidade árida e sórdida, junto com seu pai, o também ilustrador, Deodato Borges. Ramhtar apareceu numa história feita pelos Deodatos para ser publicada na Alemanha, mas nunca ganhou vida e também vagou pelo limbo das editoras falecidas dos anos 1980. Até que, um dia, trocando cartas como grande Mozart Couto, um dos grandes artistas brasileiros de todos os tempos, Deodato manda uma arte de Ramthar e o Mozart se interessa pelo personagem e lhe batiza com o nome desta edição. Juntos eles produzem duas histórias, com texto e arte do Mozart e nanquim e retículas do Deodato, em busca de publicação. O tempo e as pirações do mercado brasileiro fizeram com que essa história também sumisse no limbo.
Chega 2017 e, finalmente, Deodato Jr., graças ao agente de artistas, Piet du Lombaerd, conseguiu todas as páginas dessas histórias e assim surgiu a oportunidade de Ramthar voltar ao Brasil.
A atual edição da Mythos engloba as histórias feitas por Mozart e Deodato Jr., a história de duas páginas e a história feita para o mercado alemão feita por Deodato pai e filho.
As claras influências de materiais como a Heavy Metal e filmes como Mad Max e o clima dos antigos westerns spaghetti com relances de Conan, dão o tom das histórias. Ramthar e o mundo que o cerca são brucutus, sem delicadezas e sem escrúpulos. Ramthar é um personagem errante e vai encontrando em seu caminho pessoas como Jannus e Yreva, o cachorro Bórus, a pesquisadora Mara, todos lutando pela sobrevivência contra monstros em forma de pessoas. Há boas lutas em veículos, violência, momentos de capa e espada, tortura, dramas, sensualidade, boas pancadas e até mesmo figuras animalescas. O universo que circunda Ramthar mostra o quanto há possibilidades em se contar diversos tipos de histórias.
A arte em preto e branco do álbum é um deleite. A arte do Mozart com o nanquim do Deodato Jr. é fantástica. Mozart sabe usar tudo em prol da narrativa na HQ e o misto perfeito de nanquim e retículas que o Deodato Jr. criou é único.
As histórias feitas por Deodato Jr. são carregadas de auto contraste, com o uso magnifico de retículas. O bonito de se ver é como artistas como Mozart e Deodato Jr. se completam e criam um dos melhores momentos da HQ nacional e um belo retrato dos anos 1980.
A edição da Mythos está excelente. Impressão impecável com nada estourado. Dá para se apreciar belamente toda a arte sem a perda de nenhuma mínima hachura ou textura e o formato magazine da edição junto com o papel couchê ajudam nisso também. A revisão da Priscila Oliveira está muito boa e as letras do Celso Pimentel estão bem utilizadas e bem encaixadas nos balões , que são parte da arte.
Também temos na edição algumas artes e sketches de Ramthar de quando foi publicado nos EUA nos anos 1990, no primeiro “boom” de artistas que trabalharam para as editoras americanas, nas páginas da revista “Jade Warriors” e um texto de abertura escrito por Franco da Rosa.
Ramthar pode ser adquirido autografado diretamente com o Deodato, através do e-mail: palomanndiniz@gmail.com, através de comic shops ou em sites de lojas na internet.
Chegamos ao fim de mais um Cantinho das HQs. Gostou? Que recomendar um quadrinho para lermos? Quer que nós do Multiversos avaliemos a sua HQ? É só deixar o seu comentário ou entrar em contato com a gente.
Até a próxima.
Nascido em Fortaleza, trabalha profissionalmente com quadrinhos e ilustração desde 2005, quando começou a vender seus trabalhos pela Internet em sites de vendas como o E-Bay. Trabalhou para editoras norte-americanas, ministrou aulas de desenho e quadrinhos, e vem participando de diversos eventos nos Artists’ Alleys e em painéis sobre cultura pop, quadrinhos e artigos/notícias para o site do Dínamo Studios, do artista Daniel HDR.