HQs | Livros

Alan Moore está certo?

Publicado há

em


Recentemente, saíram umas declarações dadas pelo mago inglês Alan Moore, nas quais ele declarou que seria sua última entrevista. Conhecido por obras de grande importância no mundo dos quadrinhos, como Watchmen, A Piada Mortal, Promethea, V de Vingança, Do Inferno e a reformulação do Mostro do Pântano, Moore também é afamado por suas declarações polêmicas e, por diversas vezes, controversas.

Em um encontro com um blogueiro irlandês (Pádaig Ó Méalóid), em um evento chamado de “Uma noite com Alan Moore”, o escritor reforçou sua insatisfação com o mundo dos super-heróis e sua preocupação com o público que consome esse material. Segue a declaração de Alan Moore:

“Eu dei a minha sincera opinião de que eu acho preocupante o fato de que o público de filmes de super-heróis seria hoje composto quase completamente de adultos. Homens e mulheres em seus 30, 40 ou 50 anos, que estariam alegremente enfileirando-se para assistir personagens e situações que foram expressamente criados para entreter os garotos de doze anos de 50 anos atrás. Eu não apenas sinto que este é um ponto válido, eu também acredito que qualquer observador desinteressado pode comprovar isso por si próprio. Na minha mente, o fato de abraçarmos personagens que, de forma não-ambígua, foram feitos para serem absorvidos por crianças da metade do século XX parece indicar um retrocesso das complexidades opressoras que admitidamente fazem parte da existência moderna. Para mim, parece que uma porção significativa do público desistiu da tentativa de entender a realidade na qual nós vivemos e, em vez disso, racionalizou o que ao menos pode ser capaz de compreender dos universos alastrantes, sem sentido, mas, ao menos, finitos “universos” apresentados pela DC e pela Marvel Comics. Eu ainda poderia observar que isso é potencialmente uma cultura própria, relevante e suficiente para este tempo.”

Para quem acompanha quadrinhos desde criança, como é meu caso, em que basicamente fui alfabetizado com histórias de super-heróis, as declarações de Moore geram certo desconforto e também uma análise pessoal. Não é a primeira vez que ele comenta algo do tipo. No ano passado, Moore fez declarações semelhantes para uma matéria vinculada ao jornal inglês The Guardian.

Tento entender a mente do autor e aceitar todos os problemas que ele foi adquirindo com o passar dos anos com a indústria, principalmente com as adaptações cinematográficas de suas obras. Mas o próprio Moore foi responsável por essa mudança no universo das HQ’s, mostrando como contar excelentes histórias de heróis. A desconstrução do mito tão bem retratada em Watchmen, com a realidade mais próxima do leitor. A mudança de narrativa, mostrando que o herói também é falho e cheio de incertezas. Sua reformulação a um personagem datado e esquecido, o Marvelman (Miracleman), trazendo um teor filosófico e denso ao personagem.

Entendo o seu espanto em ver adultos consumirem um produto que, em sua genesis, fora feita para entreter crianças. Mas o conceito mudou. Muito do que vimos no passado não existe mais.

Concordo que os leitores não estão se renovando como gostaríamos, muitos daqueles que consomem esse material são os mesmo que consumiam há 15, 20 e até 30 anos atrás. Mas, autores como Frank Miller, Neil Gaiman, Jamie Delano, Grant Morrison, Garth Ennis e lógico, Alan Moore, nos fizeram mudar a concepção de uma boa história, e nos fizeram procurar outras formas de leituras que não sejam os quadrinhos de super-heróis.

Os problemas de Moore com a indústria de cinema são claros em suas declarações, mas ele não analisa que não é apenas o público que consome quadrinhos que se enfileira nas portas dos cinemas para ver essas adaptações. Em sua grande maioria, são pessoas que nunca ouviram falar desses personagens, e que vão apenas para um bom divertimento.

Chego ao final deste texto com uma resposta, mas essa resposta funciona para mim. Cada um deve buscar a sua própria resposta. Afinal, essa afirmação vem de um autor do qual gosto demais e traz um peso por toda a sua história nesse universo que amo tanto. E, para mim, ele está errado, pois o mundo dos super-heróis foi uma janela muito importante para que eu descobrisse todo um universo que faz parte do meu dia, e como grandes histórias me fizeram mudar minha forma de ver o mundo.

2 Comentários

Mais Lidos

Sair da versão mobile