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A Flecha de Fogo | Crítica do novo romance do escritor Leonel Caldela

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O escritor, também conhecido por ‘A Lenda de Ruff Ghanor’, ‘Ozob’, ‘O Código Élfico’, entre outros, retorna ao cenário que o lançou ao mercado com a amada ‘Trilogia Tormenta’ e, mais uma vez, revoluciona o cenário do maior RPG do Brasil.

A Flecha de Fogo conta a história do jovem astrólogo, Corben. Morador da cidade de Sternachten, uma pequena cidade do reino de Tyrondir, ao sul do Reinado, Corben é um entre tantos outros adeptos de Thyatis, Deus da Ressurreição e das Profecias, presentes nas ordens eclesiásticas locais dedicadas ao deus, e devota sua vida a estudar o céu e seus astros em busca de compreender os sinais divinos ali presentes. A vida rotineira e cotidiana do clérigo muda quando, em meio a tantos outros acadêmicos, Corben é escolhido para ingressar no estudo da profecia que prevê o fim do maior carrasco já visto em Arton, o Arauto da Destruição, a Foice de Ragnar, Thwor Ironfist. Corben precisa descobrir o que é a Flecha de Fogo.

Em meio a isso tudo um guerreiro sagrado, Avran Darhold, vê a escuridão a caminho e toma pra si a missão de deter Thwor Ironfist. A qualquer custo.

* * *

Vindo de um hiato de 10 anos afastado dos romances dentro do cenário de Tormenta, Leonel Caldela retorna em grande estilo ao mundo que ele ajuda a dar vida e cor desde sua primeira investida em terras artonianas, no conto ‘Ressurreição’, na antiga Revista Tormenta #15. O livro traz à tona o desfecho da profecia mais antiga de Arton, o mundo onde se passa o enredo. Confira a profecia no vídeo abaixo:


Mais uma vez cabe a Leonel Caldela a responsabilidade de responder uma das grandes dúvidas dos fãs de Tormenta. Após o sucesso da Trilogia Tormenta, onde o autor pode dar luz à história da Tempestade Rubra que dá nome ao cenário, Caldela agora entra a fundo na história do continente sul de Arton, Lamnor.

Antes uma terra que abrigava a belíssima população, cidade e cultura élfica, e que também foi o berço da civilização humana do continente inteiro, Lamnor hoje é apenas uma sombra do que foi. Dominada por monstros sedentos por sangue, sem quaisquer limites ou escrúpulos, o continente sul é uma enorme e perigosa terra de morte e destruição. Todos sabem disso. Ou, pelo menos, isso é tudo no que acreditam.

Vale ressaltar de imediato que todas essas informações que são de conhecimento prévio para os amantes do Tormenta RPG são muito bem apresentadas no livro. O roteiro trabalha de forma que qualquer leitor, conhecedor ou não do cenário, possa acompanhar a trajetória de vida e estudo de Corben, seu papel na sua ordem, quem é o seu deus, os dogmas da sua devoção, a estrutura social da cidade onde sua ordem está inserida e sua posição de vulnerabilidade em relação aos perigos do sul; além de deixar claro o que é a Aliança Negra, seu papel no mundo e o motivo de a humanidade tanto a temer. Então, tudo o que você precisa saber para entender o livro, está lá. Pode ir sem medo! Claro, se você tiver algum conhecimento prévio do cenário, ficará satisfeito em reconhecer alguns rostos familiares.

O livro ainda nos proporciona um mergulho tão grande e intenso na história, vida e cultura do continente de Lamnor que qualquer um, mesmo o fã mais antigo do cenário, ficará maravilhado com tamanha informação, riqueza de detalhes e a profundidade de uma cultura, até então, desconhecida. Em meio ao relato do jovem Corben, somos apresentados a toda uma estrutura social, comportamental, linguística, religiosa e até alimentar da Aliança Negra. Podemos conhecer as entranhas do povo que, até o nascimento de Thwor Ironfist, era pouco mais que um punhado de tribos distintas, separadas e enfraquecidas pelas diferenças raciais, e relegadas ao papel de assassinos e bárbaros nos contos de bardos humanos e elfos.

Leonel Caldela se mantém, na minha humilde opinião, no posto de melhor escritor de fantasia medieval do Brasil. O roteiro segue livre e dinâmico em sua mão, impossível não querer continuar a cada final de cena, ou de capítulo. A evolução dos personagens envolvidos na trama é gradual e bem amarrada. Não há pontas soltas ao final do livro. Há, sim, uma ânsia por mais e mais histórias! As 736 páginas parecem não ser tanta coisa assim depois de você passar por elas.

Por falar na quantidade de páginas…

Se há algo que eu realmente reclamaria em relação ao livro é a decisão de lançá-lo em uma edição única. Para nós leitores, financeiramente, a decisão é extremamente acertada! Você tem uma ótima história, com bastante conteúdo, por um preço coerente com o mercado. Até mais em conta que o normal, eu diria. Mas, fisicamente, é muito ruim a leitura de um livro deste tamanho e peso. Fugindo da crítica e dando um relato particular: parei com o livro uns bons dias por não aguentar de dor nos ombros e braços, por conta da dificuldade de segurar o monstrengo para ler. Para quem possui algum dispositivo de leitura digital, como um Kindle, um tablet, ou similares, sinta-se agraciado e cogite usá-lo para este caso.

A diagramação de Guilherme Dei Svaldi acerta ao trabalhar com uma fonte de tamanho médio, comparativamente maior que a fonte usada na Trilogia Tormenta, por exemplo. Isso ajuda muito na leitura mas, infelizmente, a mesma diagramação deixou o livro com um errinho bobo, mas chato. Em algumas páginas acontece de haver frases inteiras ligadas, sem espaçamento.
Imaginavocêleralgumasfrasesinteirassemespaço,éumsaco,né? Ponto fora dos revisores.

O projeto gráfico de Samir Machado, as capas do monstruoso Caio Monteiro, e as artes internas de Ricardo de Sá são belíssimas e combinam perfeitamente com a proposta da obra. O mapa do Leonel Domingos é uma mão-na-roda para ajudar você a se situar durante toda a aventura, além de um belo trabalho. A edição, mais uma vez, fica a cargo de JM Trevisan, que dispensa comentários e é extremamente competente no que faz.

A Flecha de Fogo é mais um livro de literatura fantástica brasileira que não fica aquém de nenhum livro estrangeiro do gênero. Tem um roteiro fluido, envolvente, que te leva pensar em vários pontos, desde o destino em si até a distância enorme que pode existir entre a realidade dos fatos e a “realidade” como te contam.

No final das contas, que estejamos sempre perto do Conhecimento no Akzath.

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